PANDEMIA E LAZER: os reflexos da pandemia nos cotidianos de lazer das periferias urbanas
Resumo
Diversas periferias no país são marcadas historicamente por ausências, precariedade dos serviços públicos e pelas narrativas sobre violência e pobreza divulgadas pela imprensa de forma constante há muitas décadas. Essas narrativas oficializadas sobre esses territórios imperam como obstáculos aos moradores, que continuam sendo estigmatizados e excluídos socialmente. Nestes tempos de pandemia, a situação parece ter se agravado. Falta de leitos para a população mais pobre, materiais de higiene e até mesmo a diminuição drástica da renda tem tensionado esse período nos territórios periféricos. No entanto, mesmo com tantas problemáticas, muitos moradores de periferias têm encontrado dificuldade de abrir mão dos espaços de lazer, mesmo com medidas de distanciamento social. Nesse sentido, as resenhas nos botequins, as peladas no campo de várzea, o bate papo nas feiras se apresentam como grandes adversários nessa luta contra a Covid-19. Assim, buscando entender as relações e a importância que esses territórios do lazer representam, buscamos investigar três periferias nos Estado de Minas Gerais e Rio de Janeiro. Nesse sentido, pesquisamos os bairros de Justinópolis em Ribeirão das Neves- MG, Lote XV em Belford Roxo-Rj e o Conjunto de Favelas da Maré no Rio de Janeiro- RJ. O trabalho analisou a maneira como se configuraram as sociabilidades e identidades tecidas através das experiências fomentadas nesses espaços de lazer, indicando a resistência dos moradores em abrir mão, mesmo em um momento de pandemia, desses espaços de lazer. Esta pesquisa utilizou a abordagem etnográfica por meio de observações entendendo esses territórios do lazer como “Pedaços” marcados por códigos, pertencimentos e identificações peculiares no contexto periférico, como diz José Magnani.
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